O fato de o nosso planeta ter dois terços da superfície recoberta pela água dos oceanos talvez dê a impressão de que a água na Terra seja uma coisa infindável. Após as primeiras viagens espaciais, ocorridas nos anos 60, inúmeras fotos do planeta feitas do espaço foram divulgadas. As imagens da “Terra, Planeta Água”, como diz a canção de Guilherme Arantes, espalharam-se e, em geral, transmitem uma idéia muito forte da grande quantidade de água que parece existir no planeta.
Vivendo em um planeta com grandes chuvas e enchentes; com grandes desertos onde sempre há um oásis; no planeta dos oceanos, das cachoeiras, dos grandes rios, das geleiras e dos icebergs, como é possível acreditar que estamos correndo perigo, pois podemos, em poucas décadas, ter enormes dificuldades em encontrar água potável para nossa sobrevivência?
É importante que se tenha claro que o volume total de água existente na superfície da Terra não corresponde ao volume total de água disponível para consumo da humanidade.
De toda água existente na Terra, 97% encontram-se nos oceanos sendo, portanto, salgada. Dos 3% de água doce restante, 2% estão nas geleiras e apenas 1% é água doce presente na atmosfera, lençóis subterrâneos, lagos e rios. É desse 1% que mais de 6 bilhões de seres humanos devem obter a água que precisam para sobreviver. No entanto, parte desse 1% já está poluído por esgotos e resíduos industriais, tornando-se impróprio para o consumo.
Metade das áreas úmidas do mundo foi destruída nos últimos cem anos, por conta das transformações do meio ambiente promovidas pelos seres humanos. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde, a água já é escassa para um bilhão de habitantes do planeta. Se não forem adotadas medidas urgentes, um terço da população poderá ficar sem água apropriada para consumo até 2025. Assim, o fornecimento de água potável para todos é o grande desafio da humanidade para os próximos anos.
Há 50 anos, éramos dois bilhões e meio de habitantes no planeta. Hoje somos mais de seis bilhões; isso mostra que a população mundial mais que dobrou nas últimas cinco décadas. Se, de um lado, a população de seres humanos cresceu dessa maneira, o mesmo não aconteceu com a água doce disponível. A quantidade de água que existe na Terra não se modifica ao longo do tempo: no vaivém natural do seu ciclo, a água se transforma em vapor e este se condensa ou solidifica, voltando à superfície em forma de chuva, orvalho, neve ou mesmo granizo. As transformações da água na natureza são muitas e permanentes; porém, a quantidade total do planeta se conserva, ou seja, não aumenta nem diminui.
Ciclo da Água
Pequeno ciclo
O calor do ambiente faz derreter (fundir) e evaporar a água dos oceanos, geleiras, rios e lagos. O vapor d'água presente no ar condensa-se, então, formando as nuvens que depois produzem as chuvas. Com as chuvas, a água retorna à superfície terrestre.
Grande ciclo
Tem a participação de seres vivos. As plantas absorvem a água da chuva infiltrada no solo e a eliminam no ambiente em forma de vapor. Os animais participam do ciclo bebendo água e comendo. A eliminação de água do corpo dos animais se dá pela transpiração, urina e fezes.
Além de ser apenas 1% do total da água do planeta, a água doce é desigualmente distribuída na superfície terrestre: existem regiões que têm água doce em abundância, ao passo que outras são muito secas. No norte da África e no Oriente Médio, as regiões são áridas: é o caso do Kuwait, país petrolífero do Golfo Pérsico, onde praticamente não existem fontes de água doce. Já na América do Sul, por exemplo, existem maiores porções de terras úmidas. E no Brasil, será que a água é abundante? Ela é distribuída igualmente em todas as regiões?
No Brasil, encontram-se 11,6% de toda água doce do planeta e mais da metade da água doce da América do Sul. O que ocorre é que a maior parte de toda essa água encontra-se nas regiões de menor densidade demográfica, como é o caso da Região Norte do Brasil. Já no Sudeste, apesar de haver uma quantidade razoável de água, existe também uma população muito numerosa e a necessidade de recursos hídricos é enorme. Para dificultar a situação, parte dessa água encontra-se altamente poluída.
Água: um bem comum da humanidade?
A água pode ser entendida como um direito humano fundamental, individual e coletivo, ou como uma mercadoria, um bem econômico. No último caso, os recursos hídricos seriam gerenciados sob a ótica do mercado: as empresas de captação e saneamento devem ser privadas e o preço da água, regulado pelas relações entre oferta e procura. Por outro lado, há setores que defendem a luta pela gestão pública do saneamento, considerando que esse é o caminho para garantir sua qualidade e acessibilidade.
Cobrar pela água já é prática comum em alguns países, como Estados Unidos, França, Alemanha e Holanda. No Oriente Médio alguns países necessitam importar água para consumo doméstico. A cobrança pela água pode transformá-la numa fonte de lucro e ocasionar deficiências nos serviços de abastecimento, perda de qualidade, além de impactos sobre o custo de vida.
A privatização da água, por sua vez, pode ocasionar sérios problemas: se não houver um órgão, legalmente credenciado, que seja responsável pela análise de sua qualidade, corre-se o risco de que a água distribuída esteja contaminada, podendo transmitir doenças. Deixando-se o fornecimento de água nas mãos de companhias privadas, essas podem eventualmente abandonar o projeto, caso constatem que ele não traz o retorno financeiro esperado. Além disto, é necessário garantir a qualidade nos processos de manutenção, reparo, administração de aquedutos e redes de esgoto, o que se torna mais difícil com a privatização.
No Brasil, pagamos apenas pelo tratamento e distribuição da água, sendo que o líquido em si é gratuito. Porém, a Lei no. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, permitindo a cobrança pelo recurso.
Reservas hídricas: preservar para não acabar
Ao ocupar ambientes, o ser humano sempre os transforma. Por meio de tecnologias, ele extrai e utiliza recursos naturais na produção de bens necessários à sua sobrevivência (moradia, construção de prédios industriais e comerciais, alimentos, transporte, comunicações, água encanada, rede de coleta de esgotos etc.).
Ao longo de muitos séculos, o crescimento populacional e os avanços técnicos foram lentos. Hoje, porém, as coisas são diferentes: tudo tem ritmo acelerado, inclusive a devastação ambiental.
O modo como a ocupação humana se dá hoje no mundo e os graves desequilíbrios resultantes de sua ação no ambiente, além de provocar a morte de muitos animais e vegetais, compromete seriamente o abastecimento de água às populações do planeta.
Por exemplo, a ocupação de mananciais – áreas que contêm fontes de água, como nascentes, rios, lagos, represas, açudes ou poços - podem ocasionar alterações no ciclo da água, contaminação do solo e da água, erosão, escoamento inadequado de águas pluviais, assoreamento, além do desmatamento da região.
O desmatamento nas áreas de mananciais é uma das causas da diminuição de água disponível para consumo da população. Que ligação há entre desmatamento e abastecimento de água das cidades?
Acontece que, quando a mata é retirada, o solo fica nu, sem cobertura vegetal. A água da chuva, ao cair nesse solo nu, não encontra nenhum tipo de barreira; ela escorre com rapidez por essa terra e não se infiltra no solo. Se isso não acontece, o solo não fica devidamente encharcado e não abastece o lençol freático, que fica mais vazio. Isso faz com que os mananciais, que se originam de lençóis freáticos, também fiquem com menos água. Tudo vai secando. Clique aqui para entender como é formado o lençol freático ou aquífero.
Além disso, essa água que escorre com rapidez, arrasta para o rio grandes quantidades de areia e terra, fazendo com que o rio fique mais raso e, em conseqüência, mais largo e lento. Esse processo, chamado assoreamento, tem ocorrido com muitos rios brasileiros. Rios assoreados tornam impossível a vida de peixes de grande porte. Por causa do alargamento, em muitos casos o rio invade áreas destinadas à agricultura, podendo provocar erosão nas terras junto às margens.
Outro tipo de problema é o que ocorreu na cidade de Cubatão, no Litoral Paulista. Indústrias e população passaram a utilizar intensamente as águas do lençol subterrâneo. Como a retirada de líquido passou a ser maior do que a reposição pelo ciclo da água, o nível do lençol foi baixando, até que o fluxo de água doce que ia em direção ao mar se inverteu e a água salgada invadiu o lençol. Este se tornou salgado e impróprio para consumo.
Há, ainda, outros fatores que comprometem seriamente os recursos hídricos:
Eliminação de resíduos sólidos e líquidos (lixo e esgoto) a céu aberto, favorecendo a contaminação do solo e da água das nascentes, lençóis freáticos, rios e mares, além da disseminação de doenças.
Derramamento de petróleo: o óleo que cobre a água impede a troca de gases entre a água e ar, sufoca a vegetação e provoca a morte de muitos animais, como peixes e aves.
Atividades extrativas: a retirada de terra, areia e pedras pode provocar desbarrancamento, assoreamento e poluição das águas.
Escoamento inadequado das águas da chuva: as águas pluviais podem provocar erosões que comprometem os cursos d’água.
Práticas agrícolas inadequadas: abuso no uso da água, desmatamento, plantios à margem dos cursos d’água, queimada e contaminação do solo e da água por agrotóxicos.
Construção de estradas: uma estrada malfeita pode provocar erosão e ficar como se fosse o leito de um rio.
Como os mananciais são fontes naturais de água que servem para consumo da população, é fundamental que se garanta sua preservação. Isso é lei. Fiscalizar, denunciar e exigir o cumprimento da lei são deveres de todo cidadão. Além disso, é necessário também recuperar as águas que se encontram contaminadas ou poluídas.
Água e saúde
Todo ser humano tem direito a uma vida digna. Mas será que é isso que acontece no mundo?
O que dizem as estatísticas |
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Mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso à água potável
25 mil pessoas morrem diariamente por não ter água potável para beber
4,6 milhões de crianças de até 5 anos de idade morrem por ano de diarréia, doença que está ligada ao consumo de água não potável; ela se agrava devido a fome e a miséria que atingem brutalmente muitas vidas.
No Brasil, 30% das mortes de crianças com menos de um ano de vida se devem à diarréia também provocada pela ingestão de água não potável
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A qualidade de vida das populações depende do acesso aos bens necessários à sua sobrevivência. A água potável, assim como a coleta de esgoto, tem fundamental importância para a diminuição do índice de mortalidade infantil, pois evitam a disseminação de doenças vinculadas às más condições sanitárias e de saúde. Esses itens são igualmente importantes quando nos referimos ao aumento da expectativa de vida da população. A baixa expectativa de vida também é um indicador da pobreza que atinge a população.
Águas deterioradas trazem muitos danos à saúde do homem, por exemplo as doenças de veiculação hídrica, que podem ser adquiridas por ingestão ou contato com água contaminada – como cólera, hepatite infecciosa, esquistossomose - ou transmitidas por insetos que se desenvolvem na água – como dengue, febre amarela, malária, entre outras.
Medidas profiláticas para eliminar ou minimizar o perigo de transmissão de doenças pela água dependem da proteção dos mananciais, do tratamento adequado da água e da manutenção constante do sistema de distribuição.
Saneamento básico
A falta de saneamento básico é um dos graves problemas ambientais de países em desenvolvimento, onde muitas vezes a infra-estrutura disponível não acompanha o ritmo de crescimento das cidades, colocando em risco a saúde de seus habitantes.
O sistema de saneamento básico consiste no conjunto de equipamentos e serviços considerados prioritários em programas de saúde pública, especialmente o abastecimento de água e a coleta e tratamento de esgotos.
O abastecimento de água para uma região passa por várias etapas: a captação em mananciais (o que requer uma atenção especial em relação à ocupação de áreas de bacias hidrográficas), o tratamento (que torna a água potável) e sua distribuição para os diversos usos.
O sistema de esgotamento sanitário recolhe e trata o esgoto, retirando detritos para tornar a água o mais limpa que for possível antes de despejá-la nos mares, rios ou reservatórios. Outro serviço que compõe o saneamento básico de uma cidade é o sistema de drenagem, que recolhe as águas das chuvas e evita enchentes. Também o serviço de limpeza urbana, que mantém limpos os espaços públicos, recolhendo, tratando e dispondo em aterros sanitários os vários tipos de lixo.
Uso da água
Além do desmatamento e da destruição de rios e lagos por meio da poluição doméstica e industrial, o desperdício de água também é responsável pela crise de abastecimento pela qual o país está passando.
Muita água se perde porque ocorrem vazamentos nas adutoras e na rede de distribuição; além disso as pessoas não têm o hábito de reutilizar água e consomem muito mais do que o necessário. É preciso que esse recurso seja utilizado com o máximo de equilíbrio, racionalidade e senso de responsabilidade coletiva.
O Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo mostrou que, numa cidade como São Paulo, aproximadamente 30% da água é perdida antes de chegar aos consumidores, devido a vazamentos que ocorrem nas adutoras e nos encanamentos públicos. É claro que esse é um problema gravíssimo e que as autoridades têm a obrigação de dar uma satisfação à sociedade sobre esses acontecimentos. E quando a água chega às nossas casas, de quem é a responsabilidade? Ela é de cada indivíduo. E o que cada um de nós pode fazer para evitar o desperdício de água?
É no dia-a-dia que devemos tomar atitudes de respeito com os recursos da natureza e, conseqüentemente, com a vida no planeta. Economizar água; não jogar lixo nas ruas, córregos, rios e represas; preservar a mata natural que cerca as margens dos rios e das represas são atitudes que cabem a todos nós (crianças, jovens, adultos). Se cada cidadão fizer sua parte e a sociedade cobrar dos governantes que cumpram as leis, teremos muito menos problemas com nossos recursos hídricos.
Evite o Desperdício de Água |
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Para lavar calçadas, quintais etc., não há necessidade de usar a água tratada da torneira. Pode-se reutilizar, por exemplo, água do tanque para essas atividades.
Quando for escovar os dentes ou fazer a barba, deixe a torneira fechada; só abra quando for enxaguar a boca ou o rosto.
Na hora do banho, procure ficar menos tempo com o chuveiro ligado; pode-se fechar o registro durante o ensaboamento.
Fique atento aos vazamentos de água em sua casa. Um buraquinho no encanamento de 2mm jogará fora 3.200 litros de água por dia, segundo dados da SABESP.
Substitua duchas de alta pressão por chuveiros, pois gastam bem menos água.
Substitua a mangueira por baldes quando for lavar o carro.
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Fonte: www.educarede.org.br