Roberto Agresti
Colunista do UOL
Colunista do UOL
O
|
veículo de duas rodas motorizado, seja ele um
ciclomotor, motoneta, scooter ou motocicleta, ainda enfrenta restrições para
ser aceito como válida alternativa contra os crescentes problemas da mobilidade
urbana.
Entre
vários fatores, o que mais pesa é o estigma de insegurança, efetivamente real
pela própria natureza destes veículos, nos quais a probabilidade de danos
físicos ao condutor em um acidente é sempre maior. Estudos indicam que uma moto
oferece no mínimo oito vezes mais risco que um carro, mas há estatísticas que
apontam para cifra bem maior.
Nos
últimos vinte anos, o salto tecnológico dado pela indústria automobilística em
termos de segurança foi notável. Dentre muitos itens, a evolução dos freios
tendo o sistema ABS como astro principal foi significativa. O progresso direcionado
para a segurança trouxe a reboque a disseminação dos airbags, o aperfeiçoamento
de assentos e cintos de segurança e, finalmente, uma literal invasão da
eletrônica por meio de controles de estabilidade e múltiplos aparatos
relacionados à proteção ativa e passiva dos ocupantes de um carro.
Infelizmente, nas motos tais progressos foram mais tardios. E limitados.
DEMOROU
Os
sistemas de freio, suspensões e pneus dedicados a veículos de duas rodas
evoluíram fortemente a partir de meados dos anos 1980, porém somente na última
década a vasta aplicação da eletrônica presenteou os motociclistas com sistemas
que não apenas facilitaram a pilotagem como também contribuíram efetivamente
para a segurança. O acelerador eletrônico, também conhecido por "ride-by-wire",
associado a sofisticados módulos de gestão do motor, os ECU -- Electronic
Control Unit -- fizeram com que as motos de alta performance, apesar de cada
vez mais potentes, ficassem mais fáceis de pilotar do que há dez anos.
Poder
contar com um recurso como o controle de tração, que em alguns modelos pode ser
graduado em diversos níveis de intervenção, e também com a possibilidade de
alterar a gestão eletrônica do motor, e consequentemente o modo como a potência
se apresenta, faz com que até mesmo usuários menos hábeis se sintam "donos
da situação". A consequência disso é o aumento da segurança dos
motociclistas especialmente na condução em piso de baixa aderência, sob chuva,
ou em pavimentação ruim.
Tais
progressos na segurança ativa das supermotos, que salvam seus condutores
através de invisíveis "anjos da guarda" eletrônicos mitigando os
efeitos de uma acelerada desproposital ou de uma redução de marcha fora de hora
não foram, infelizmente, estendidos às motos mais simples.
E
NAS MOTOS MAIS BARATAS?
Eletrônica
sofisticada, portanto, só está presente em máquinas de preço elevado, modelos
exclusivos caracterizados pela extrema potência e restritas a bem poucos
usuários. Hoje, no Brasil, é possível comprar um carro popular, um Volkswagen
Gol por exemplo, dotado de ABS e airbags. Já no âmbito das motos, a equivalente
Honda CG 150 Fan não é ofertada com o evoluído sistema de frenagem
antitravamento, uma decisão certamente ditada pelo mercado e pelo custo mais
elevado, mas não pelo bom senso.
De
fato, a disponibilidade do sistema de frenagem ABS para motos (tema já abordado
neste espaço em 10 de agosto passado) começa a surgir apenas em modelos
maiores, como nas Honda CB 300R e XRE 300, motocicletas cujo preço é
praticamente o dobro da popularíssima CG Fan, e mesmo assim oferecido como
caríssimo opcional acrescentando quase 15% ao preço da versão sem o componente.
Por
conta disso, a proporção de CB 300R e XRE 300 vendidas com ABS é mínima, 3,8% e
5,2%, respectivamente, de acordo com os dados da ABRACICLO referentes aos oito
primeiros meses de 2012. Já no âmbito das motos maiores, onde o custo do
dispositivo de frenagem mais segura tem menor incidência, mal alcançando os 10%
de acréscimo ao preço total da moto, a aceitação é bem maior. O bom exemplo é a
CB 600F Hornet, que de janeiro a agosto deste ano teve quase 33% das vendas
centradas no modelo com ABS.
Como
dissemos, pela própria morfologia do veículo, o condutor de uma motocicleta
está mais exposto a ferimentos em caso de acidentes. A adoção de modernos
dispositivos de segurança na motocicleta é, portanto, necessidade premente que
deveria se sobrepor a razões comerciais. O exemplo da indústria
automobilística, que em breve equipará todos os automóveis com airbags e freios
ABS por exigência de lei, deveria inspirar os fabricantes de motos a se
anteciparem no intuito de salvaguardar seus clientes, e de quebra atrair novos
usuários. O trânsito nas grandes cidades, a mobilidade e principalmente a
segurança de um modo geral agradeceriam.
ROBERTO
AGRESTI é editor da Revista da Moto! desde 1994. Sua estreia na imprensa
automotiva foi em 1984, com passagens pelas revistas Motoshow (atual Motor
Show) e Motor 3. Colabora com avaliações de carros no site Best Cars desde
2007, mas sua especialidade e paixão são as motocicletas. A coluna Moto! é
publicada às sextas-feiras só em UOL Carros.