segunda-feira, 25 de julho de 2011

CADASTRO POSITIVO SOPRA “BONS VENTOS” PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS


Roseli Garcia

Roseli Garcia
Diretora de Parcerias e Operações
da Boa Vista Serviços/SCPC

Os reais impactos da aprovação do Cadastro Positivo na economia brasileira devem ser amplamente debatidos no cenário de abertura de oportunidades para pequenas e médias empresas. Na prática, em sua integralidade, o crédito ganha uma configuração de concessão vantajosa aos que o operam com responsabilidade.

O Cadastro Positivo é essencial para que todos os segmentos cresçam de forma uniforme e coesa. O funcionamento consiste em um banco de dados no qual são anotados dados financeiros e de pagamentos relativos às operações de crédito e obrigações de pagamento adimplidas ou em andamento por pessoa natural ou jurídica. Com isso, permite que o consumidor cadastrado possa ser avaliado também pelo seu histórico de pagamentos efetuados, tornando o processo de concessão de crédito mais completo e mais justo.

De maneira simples, o dispositivo serve para auxiliar consumidores e fornecedores no processo de obtenção e extensão de crédito, pois as informações que nele constam permitem que o comportamento dos cadastrados nesse quesito seja avaliado, de forma a contribuir para que as compras, os financiamentos, os negócios sejam efetuados em bases seguras e confiáveis, com taxas e juros mais baixas para os bons pagadores.

Destaco os ‘bons ventos’ para as pequenas e médias empresas em uma análise do vasto campo a ser explorado por estas. Com melhor qualificação em análise, além de resultados e movimentação de negócios, cria-se um ambiente favorável para diminuição de desigualdades. É um caminho que contempla o pequeno empreendedor e, mais do que isso, incentiva boas práticas de venda e consumo.

É um passo importante para o crescimento e consolidação de novos negócios. Ao contrário dos países ricos, dos quais muitos atualmente passam por crises financeiras e inflexão, o Brasil expande seus horizontes em ambiente de negócios. Com a sanção da lei, galgamos o degrau da inclusão financeira com benefícios para empresas - em especial, aquelas de pequeno porte, que historicamente são adimplentes e impulsionam o mercado nacional.

O Cadastro Positivo precisa ser desenvolvido por empresas íntegras, que respeitem os consumidores e promovam práticas comerciais éticas e responsáveis. Afinal, além de inaugurar uma nova era nos negócios, o dispositivo é democrático: quem autoriza a inserção de suas informações é o próprio consumidor. Aliás, é ele o verdadeiro detentor do poder na dinâmica do Cadastro Positivo, uma vez que o próprio pode excluir o seu nome do banco de dados quando julgar conveniente. Tanto o vendedor quanto o comprador ganham tempo, segurança, praticidade, lucratividade e crédito muito mais rápido.

Aproveite os novos ares e customize seu negócio a essa nova dinâmica! Os resultados, embora não apareçam a curto prazo, certamente serão efetivos e sólidos. 

segunda-feira, 18 de julho de 2011

SUSTENTABILIDADE E GESTÃO DE TALENTOS


Claudio Tieghi

Claudio Tieghi
Presidente da Associação Franquia Sustentável (Afras) e
Diretor de responsabilidade social do Grupo Multi Holding
Já é senso comum reconhecer que o crescimento da economia tem impulsionado (e até pressionado) o empresariado a considerar o capital humano um dos principais elos para o desenvolvimento dos negócios. Estamos em um momento em que as pessoas não podem ser mais consideradas simplesmente “recursos humanos”, colocados à disposição da empresa, mas sim a personificação dos talentos que ela possui. As pessoas se tornaram a vantagem competitiva dos negócios em um cenário que, predominantemente, tende a commodity e, consequentemente, à guerra de preços.

Surge então uma nova forma de lidar com as pessoas no ambiente de trabalho, a chamada gestão de talentos. Algo complexo, mas que não deve ser encarado como difícil de ser implementado ou, o que é pior, possível de ser incorporado somente por grandes empresas. Os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social nos ajudam a compreender que as pessoas devem ser consideradas prioritárias para o desenvolvimento dos negócios.

De que forma? Ao estabelecermos uma relação ética e transparente com os diferentes públicos com os quais as empresas se relacionam, as empresas estão criando pactos sociais que reconfiguram as relações, principalmente no ambiente de trabalho. Questões básicas, como motivação e boa remuneração, atendem de forma parcial as inúmeras demandas de uma sociedade contemporânea, cheia de expectativas e questionamentos.

A gestão de talentos deve considerar a capacitação das pessoas, a otimização dos critérios gerenciais, a harmonização e a promoção das relações culturais, a criação de espaços para adaptação e inovação. Tudo isso envolvendo grupos em causas comuns, preservando a diversidade. E, é claro, garantindo boa remuneração e condições para o crescimento e a ascensão na carreira. Para lidar com essas e outras questões, existem os indicadores de responsabilidade social criados pelo Instituto Ethos, destinados a vários setores da economia, como o bancário e o industrial. No caso das pequenas empresas, existem os indicadores elaborados em conjunto com o Sebrae. Já o franchising dispõe dos indicadores Ethos/ABF/Afras que orientam essa modalidade de negócio.

Trata-se de um questionário que permite às empresas avaliar a sua situação atual e traçar caminhos mais sustentáveis para o desenvolvimento dos negócios, gerenciando também de forma mais profissional e contextualizada os seus talentos. O questionário do franchising, que foi elaborado a partir da base criada pelo Sebrae exclusivamente para pequenas empresas, tem 124 novas questões, divididas entre 7 temas, sendo que 29 delas se referem ao público interno, dada a sua importância estratégica para o sucesso dos negócios.

O questionário avalia o desempenho das empresas em quesitos como cuidado com saúde, segurança e condições de trabalho, benefícios, critérios de contratação, valorização da diversidade e promoção da equidade, inclusão de pessoas com deficiência, relações com sindicatos, compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade e acesso à informação.

Ao incorporar esses itens na gestão e equilibrá-los, torna-se possível transformar o ambiente de trabalho e as relações internas e externas e obter, naturalmente, melhores resultados. Afinal, pagar impostos e gerar lucros e empregos é um conceito da década de 1950, já ultrapassado. Estamos no século 21, época em que a responsabilidade social das empresas diz respeito também ao cultivo e à valorização de talentos.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

INJUSTIÇAS


SUZANAHERCULANO-HOUZEL
SUZANAHERCULANO-HOUZEL

Ver a justiça sendo feita ativa o sistema de recompensa do cérebro, o que nos deixa satisfeitos

O que é justo? Uma defini­ção simples é "aquilo que cor­responde aos seus valores de certo ou errado". O senso de justiça, ao se atrelarão certo/ errado, é, portanto moral -e, por isso, muitos esperariam que fosse racional. Mas não é: tanto os julgamentos mo­rais quanto o senso de justiça são altamente emocionais. E é bom que seja assim.

Se fôssemos guiados só pela racionalidade, aceitaría­mos qualquer oferta que nos beneficiasse, por mais injus­ta que fosse (considerando que qualquer dinheiro é me­lhor do que nenhum), e pou­co importaria se ofertas injus­tas são intencionais ou não.

No entanto, aceitamos dei­xar de ganhar, ou mesmo per­der tempo e dinheiro, para evitar injustiças -o que soa completamente irracional-, e até oferecemos compreen­são a quem é obrigado a ser injusto conosco. Com isso, ga­nha a sociedade, e nós tam­bém ganhamos: a longo prazo, nossa rejeição de injusti­ças contribui para coibir no­vas ofertas injustas.

O detalhe importante é que a aversão à injustiça é auto­mática e sem esforço. Esta se­mana, por exemplo, a rádio onde eu era colunista cance­lou meu boletim diário, mas queria que eu continuasse participando - de graça! - de um programa de entrevistas de grande audiência. Racio­nalmente, qualquer partici­pação na rádio deveria ser melhor do que nenhuma par­ticipação. Mas meu detector de injustiças, situado na in­sula anterior do meu córtex, falou mais alto: "estão sendo intencionalmente injustos co­migo". Rejeitei a oferta e dei­xei a rádio. E estou felicíssi­ma com a minha decisão.

Quanto mais a insula é sen­sível a essas violações do que cada um julga socialmente aceitável, maior o grau de aversão de cada pessoa à in­justiça (minha insula deve vi­ver aos berros). Às v e z e s, c o n ­t u d o, propostas injustas aca­bam sendo aceitas.

Nesses casos, o que se en­contra no cérebro é uma me­nor ativação da insula (a in­justiça é repulsiva, mas su­portável) e um aumento da atividade na região pré-fron­tal que suprime emoções ne­gativas. Ou seja: tolerar tratamentos injustos requer mui­to controle emocional.

Por outro lado, ver a justiça ser feita leva à ativação do sistema de recompensa do cérebro, o que nos deixa invo­luntariamente satisfeitos. E assim caminha a humanidade: repudiando injustiças e preferindo a justiça sem pre­cisar pensar muito a respeito. É, há esperanças...

SUZANAHERCULANO-HOUZEL
é neurocientista, professora da UFR], autora do livro
"Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (Ed. Sextante)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

ESPELHO NOSSO


Rosely Sayão
Rosely Sayão*
Faz um tempo que observo a movimentação nos horários de entrada e saída das esco­las. Fora os carros, que atra­palham o trânsito em todo o entorno, há crianças e adoles­centes que saem e entram, so­zinhos ou com seus pais.

É uma confusão geral: cor­reria, gritaria, malas enormes que são arrastadas sem o me­nor cuidado e que produzem muito barulho, buzinas estri­dentes etc. Sempre fico impres­sionada com a indiferença das pessoas envolvidas nessas si­tuações frente a esse caos que vivenciam.

Não é muito diferente o ce­nário que se observa durante o período do recreio, na maioria das escolas.

As crianças parecem ficar desnorteadas com tanta liber­dade: correm e gritam sem di­reção e, invariavelmente, tam­bém sem contexto.

O corre-corre e os gritos não fazem parte de alguma brincadeira que exige tais manifestações.

Um dia desses, vi um garo­to de uns dez anos, mais ou menos, correndo em direção a alguém quando saía da es­cola. Talvez o pai ou um cole­ga, não pude identificar. Acontece que, em seu trajeto, ele esbarrou com força em ou­tro menino um pouco menor que ele que, pela força do em­purrão, foi ao chão.

Você imagina o que aconte­ceu logo em seguida, não ê, lei­tor? Uma briga entre os dois meninos que, para ser aparta­da, precisou de dois adultos.

O garoto que corria não via mais nada além da meta que ele queria alcançar. Tudo o que estava em seu caminho, ele ig­norou: chegou até mesmo a pisar em uma mala estaciona­da que provocou um certo desequilíbrio em sua jornada. Ele conseguiu contornar esse obstáculo, mas ficou no próxi­mo, que era o outro aluno.

Dias depois, ao ler o jornal, vi uma notícia que me fez lem­brar desse caso.

O serviço telefônico da Po­lícia Militar de São Paulo re­gistra, em média, 70 ligações por dia para comunicar de­sentendimentos ocorridos no trânsito.

Pelo menos 20 desses con­flitos acabam com violência fí­sica entre os motoristas todo santo dia.

A relação entre os casos ê inevitável. Nesse mundo em que a vida é vivida com veloci­dade máxima e em que o ou­tro quase sempre é um estorvo ou uma ameaça, os adultos es­tão dispostos a brigar por qual­quer coisa a todo o momento.

O trânsito é uma oportuni­dade excelente para isso, já que é caótico e que consome um tempo precioso da vida das pessoas.

Por que as crianças agiriam de modo diferente, se obser­vam atentamente tudo o que acontece no mundo adulto? A criança, de uma maneira ge­ral, só aceita que outra seja seu par se essa estiver a serviço de seus interesses: a brincadeira que quer brincar, o passeio que quer dar, a lição que precisa fazer etc. Fora dessas situações, outra criança a atrapalha, a ameaça.

Ter de compartilhar brin­quedos, conviver com a dife­rença e tolerar defeitos não são atos comuns entre as crianças. Poucas delas aprendem essas lições, seja na escola que fre­qüentam, seja em casa, com pais e parentes.

O curioso é que, ao obser­varmos ávida dos mais novos, logo percebemos que: eles brigam em demasia; exageram nas reações quando se defron­tam com situações que lhes tra­zem dificuldades, decepções ou frustrações; não sabem ad­ministrar, tampouco resolver os conflitos que a convivência provoca.

Entretanto, não temos a mesma facilidade para cons­tatar que estamos fazendo o mesmo em nossas vidas e que, portanto, os mais novos têm aprendido conosco a agir co­mo agem.

Se conseguirmos retirar a venda de nossos olhos e enxer­gar tudo o que temos ensina­do a eles, talvez fique menos árdua a tarefa educativa, em família ou na escola.

Só assim teremos mais com­paixão e tolerância frente aos erros que eles cometem, já que, afinal, são provocados por nós mesmos.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Transcrito do Caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo