terça-feira, 22 de março de 2011

A IMAGEM DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL


Se for possível afirmar que atualmente há um paradigma emergente ou uma "moda corrente" na administração de empresas, certamente não será o da Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Algumas empresas podem ser figuras louváveis e representantes legítimos do exercício da RSE. Lamentavelmente, a maioria daqueles que se declara "empresa socialmente responsável" não o é. Nem de longe!

Filosófica e conceitualmente falando, é impossível uma empresa ser socialmente responsável. 

A natureza do ser humano e a concepção da sociedade e dos modelos econômicos, por si, já não permite que tenhamos essa possibilidade. Mas o que fazem, então, as "empresas-modelo", no campo da RSE?

Num primeiro momento, tais empresas buscaram implantar em seus modelos de gestão pressupostos de troca dentre as esferas de mercado (Estado, Mercado e Sociedade Civil). 

Numa maneira de dar retorno à sociedade, buscaram apoiar, em projetos de natureza filantrópica ou assistencialista, ações da sociedade civil, e assim o fez durante um tempo. Este foi um passo necessário para que as outras fases surgissem.

Em seguida, amadurecendo este primeiro modelo, a empresa percebia que seus colaboradores, mesmo tendo uma série de benefícios, necessitavam tomar parte deste processo. Assim, de forma passiva, ampliou-se a carteira de benefícios sociais internos e modelos de participação na gestão.

Estavam abertas as portas para o segundo momento: a RSE passaria a figurar no Investimento Social Privado. Unindo a vontade, participação e sentimento de cidadania dos colaboradores, fomentado desde o primeiro momento, estas empresas passaram a estimular ações externas, e a investir de forma planejada e organizada na comunidade de entorno, depois partindo para o investimento na cadeia produtiva, auxiliando de alguma forma seus fornecedores, consumidores, etc. Envolver de alguma forma a cadeia de valor - ou o que conhecemos como stakeholders - tornou-se premissa obrigatória no exercício da RSE.

O conceito da RSE está em formação, e vem aos poucos criando materialidade. O grande passo, talvez o definitivo, esteja sendo dado agora: a busca por indicadores sólidos, formas de monitoramento e avaliação, profissionalização dos gestores e, especialmente, a percepção que RSE deve fazer parte da estratégia de negócio da organização.

Este terceiro momento da RSE permitirá, definitivamente, a construção de mecanismos de gestão que permitam a replicação de métodos e tecnologias sociais, a difusão de conceitos de forma mais efetiva, enfim, a consecução de ações que tragam resultados para todas as partes envolvidas. Isto destrói definitivamente o mito de que RSE é uma estratégia para imagem de marca da empresa.

A adoção de um sistema eficaz de Governança Corporativa e o estabelecimento dos processos de gestão da RSE devem ter sua base não somente na aplicação de ferramentas. As empresas precisam elaborar minuciosamente todas as etapas de seu sistema - do planejamento ao estabelecimento de indicadores adequados para o monitoramento e avaliação - considerando como premissas o desenvolvimento sustentável e o compartilhamento das estratégias de RSE com toda a cadeia de valor.

As empresas que ainda insistem em não sair do primeiro estágio e manter RSE como estratégia de marketing serão desmistificadas pela sociedade, o que certamente irá obrigá-las a evoluir. O mercado trouxe à tona a exigência de estratégias de negócios baseadas em ética e compromisso com o futuro das gerações.

Talvez não sejam mais os fortes aqueles que sobreviverão. Os sobreviventes serão aqueles que conseguirem compartilhar seus ganhos da forma mais racional com todas as partes envolvidas em seu negócio. Serão eles os primeiros a perceberem que realmente não há uma empresa socialmente responsável, mas que temos todos que ser responsáveis pela vida em sociedade.

Daniel Moraes Pinheiroi, MSc.
*Daniel M. Pinheiro é Consultor em Responsabilidade Social pelo SESI-PR, Professor nos cursos de Administração e Comunicação Social da Faculdade OPET e membro pesquisador do CIRIEC-Brasil.