Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
N
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a
preparação da Jornada Mundial da Juventude, programada para o Brasil no próximo
ano de 2013, realizam-se, em todo o país, eventos como a Corrida “Bote fé na
vida”, agendada para o domingo, dia 22 de julho. Tenho a alegria de dar a
partida deste evento junto com jovens de toda a Arquidiocese de Belém, na Ilha
do Mosqueiro.
Providencialmente,
também Jesus, no Evangelho que a Igreja proclama, convidou seus amigos para um
sadio lazer: “Os apóstolos se reuniram junto de Jesus e lhe contaram tudo o que
tinham feito e ensinado. Ele lhes disse: “Vinde, a sós, para um lugar deserto,
e descansai um pouco”! Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não
tinham nem tempo para comer. Foram, então, de barco, para um lugar deserto, a
sós” (Cf. Mc 6,30-34).
Um
dos mandamentos da Lei de Deus prescreve o descanso no dia do Senhor para
prestar-Lhe culto e refazer as forças. Muitos deveriam penitenciar-se por não
ter descansado bem ou não ter dedicado o dia de domingo à celebração principal
da vida cristã: a Missa Dominical, quando se faz presente o mistério da Morte e
Ressurreição do Senhor. Da Eucaristia Dominical podemos retirar as forças necessárias
para viver bem. Domingo é, em primeiro lugar, um dia de Missa; depois, dia de
família, de descanso e lazer. Sugiro que, no próximo exame de consciência, cada
um de nós se pergunte a respeito de seu domingo, se descansou bem e com
dignidade, inclusive para tratar melhor os outros.
Há
pessoas que cultivam bem a cultura das férias regulares, hábito saudável e
necessário, a ser mais valorizado entre nós, pelo que saúdo com alegria quem
aproveita bem o mês de férias, desfrutando-o com a família e os amigos,
repousando no corpo e na alma, para depois enfrentar as lides diárias, cada um
em sua profissão e condição de vida.
O
tempo de férias é ainda adequado para a prática dos esportes, para que a antiga
máxima seja atualizada e o corpo e a alma sejam sadios. Desejo incentivar,
especialmente, as férias vividas com a família, nas quais se refazem os laços
,muitas vezes fragmentados pela correria do dia a dia de tantas pessoas. Aliás,
também o fim de semana, durante o ano, há de ser valorizado. Entre nós existem
muitos almoços de família, abençoadas oportunidades de convivência e cultivo de
laços de afeto e ternura.
Alguns
pontos de reflexão se fazem oportunos quando se trata de férias e descanso,
quem sabe para ver a outra face da moeda! A Igreja sempre considerou inadequado
o cultivo do ócio e da preguiça, o viver “de papo para o ar”. São,
infelizmente, comuns as situações de pessoas que vivem à toa, ocupadas em não
fazer nada. Frequentes são os casos de gente “encostada”, desfrutando o
dinheiro suado de aposentados, homens e mulheres que continuam sustentando, à
custa de suor e lágrimas, parentes e agregados em muitas famílias. Se heroica é
a disposição de tais anciãos e anciãs, não deixa de escandalizar o modo de
viver de quem se aproveita de sua generosidade. O descanso há de ser fruto do
trabalho e deve encaminhar para ele, a fim de que o homem e a mulher cheguem à
grande dignidade que é viver do suor do seu rosto.
O
tempo de descanso seja ocupado com atividades dignas da pessoa humana e de sua
vida cristã. O uso descontrolado de bebidas, a terrível praga das drogas e a
total perda do sentido verdadeiro do corpo e da sexualidade, levando a ignorar
todo o sentido de limites e da adequada moralidade tem incomodado a muitas
pessoas. Espalha-se uma verdadeira camisa de força, na qual o argumento da
sociedade laica chega a extremos inaceitáveis, fazendo com que os que desejam
viver a dignidade humana e de filhos de Deus sejam reprimidos, inclusive em
suas práticas sadias.
Mais
ainda, nem podem manifestar suas convicções em público, pois o que deveria ser
chamado “direito ao pecado” se sobrepõe a valores que, considerados
conservadores, são o retrato do plano de Deus, que quer vida, dignidade,
respeito, plena realização para todos os homens e mulheres, chamados a se
expressarem na graça de Deus e não na iniquidade. Tenho ouvido jovens que
começam, graças a Deus, a se cansarem da libertinagem a que são estimulados e à
qual, muitas vezes, se entregam. Não pode se manter uma sociedade que perde as
rédeas dos impulsos e instintos, como a história nos mostra em reinos e
impérios que se corroeram por dentro a partir de orgias e bacanais.
Desejo
que o tempo do lazer e do descanso seja efetivamente sadio e possibilite à
volta a casa de família, à escola, ao trabalho e à Igreja de “cara limpa”. Não
descansa adequadamente quem recomeça seus trabalhos com peso de consciência,
mas quem pode transbordar a verdadeira alegria de filhos de Deus, pela
fidelidade que a Ele pedimos com a Igreja: “Ó Deus, sede generoso para com os
vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que,
repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos
mandamentos” (Oração do Dia do XVI Domingo Comum).