segunda-feira, 9 de abril de 2012

ALUGAR OU FINANCIAR IMÓVEL? VEJA O QUE É MELHOR PARA O SEU CASO


 Olivia Alonso e Danielle Brant
iG São Paulo

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omprar a casa própria é o sonho de muitos brasileiros. Mas nem todos têm condições financeiras de iniciar o financiamento do imóvel, ou a estabilidade necessária para dar esse passo tão importante. Por isso, o aluguel pode surgir como a opção mais vantajosa em alguns casos, como no de jovens em início de carreira ou casais que não precisem de um apartamento tão amplo, afirmam especialistas.

O analista de sistemas Rafael Oliveira, de 28 anos, se encaixa em uma dessas situações. Morador do Rio de Janeiro, ele conta que optou pelo aluguel porque queria ficar mais próximo do local onde trabalha, no Centro da cidade. “Como não dispunha de capital suficiente para adquirir um imóvel na região desejada, achei mais interessante recorrer ao aluguel do que a um financiamento imobiliário”, afirma o jovem, que mora no Flamengo.

Para ele, longe de jogar dinheiro fora, o aluguel é a melhor forma de economizar para comprar um imóvel próprio no futuro. “Dizem que, ao final do financiamento, pelo menos teremos uma casa em nosso nome. Mas o que as pessoas ignoram é o fato de que, com os exorbitantes juros brasileiros, ao final de um financiamento de 30 anos teremos jogado mais dinheiro fora com o pagamento de juros do que com o pagamento de aluguel durante o mesmo período”, afirma.

Todos os meses, Oliveira investe 10% da renda para adquirir o imóvel. Pelas suas contas, ele deve conseguir comprar a casa própria, à vista, dentro de cinco anos. Mas o jovem admite que é difícil ter a disciplina necessária para aplicar parte do salário. “Nem sempre é fácil abrir mão de outros sonhos de consumo em troca de um objetivo que só será alcançado após alguns anos de economia”, diz.

COMO CONSEGUIR DINHEIRO PARA COMPRAR, CONSTRUIR OU REFORMAR SUA CASA
Para o professor Jurandir Macedo, do Instituto de Educação Financeira, a escolha do analista de sistemas, de combinar o pagamento do aluguel ao investimento de parte da renda, foi acertada. “Comprar imóvel representa um risco. Os preços subiram muito, e os imóveis sofrem muita depreciação. Quanto mais caro o imóvel, maior o custo do dinheiro e menos vantajoso é comprar, pois o aluguel é mais barato”, explica.

ALUGUEL E FINANCIAMENTO
Outra opção é a combinação do pagamento do aluguel e das parcelas do financiamento do novo imóvel. Essa é a situação da bancária e analista de projetos Karina Mendes Barbosa, de 21 anos. Ela e o marido decidiram morar de aluguel em um bairro de Santo André (SP) enquanto não encontravam o imóvel de seus sonhos. “Esse ano encontramos a casa que queríamos, na Vila Prudente (bairro de São Paulo). Porém, ela está terminando de ser construída. Então, até ficar pronta, continuamos com o aluguel”, explica.

A situação é parecida com a de Oliveira. A diferença é que ele investe uma parte dos ganhos para comprar o imóvel à vista no futuro (ou reduzir a parcela a ser financiada). Karina, por sua vez, se comprometeu com a dívida do financiamento. Para adequar o orçamento aos dois pagamentos, ela e o marido pararam de viajar e reduziram a ida para bares, mas sem cortar totalmente o lazer. “É importante você ter uma vida ‘social’, pois senão acaba tendo a sensação de que você é ‘escravo’ do seu trabalho e de suas dívidas”, afirma.

FINANCIAMENTO
Mas, para algumas pessoas, o sonho de se mudar logo para a casa própria é forte demais para ser ignorado. Apesar de imóveis prontos para morar, em geral, serem mais caros do que os vendidos na planta – como é o caso de Karina – essa opção tem a vantagem de eliminar o pagamento do aluguel. O securitário Thiago Guedes Rocha, de 30 anos, é um exemplo desta situação.

Funcionário do Bradesco, ele foi transferido do Rio de Janeiro para Manaus. No início, pagava um aluguel de R$ 1 mil por um apartamento de dois quartos em um bairro valorizado. No entanto, na renovação o valor subiu um pouco, e ele e a esposa decidiram financiar a casa própria.

Depois de pesar as duas possibilidades, Rocha decidiu comprar o apartamento. “Hoje pago a mesma coisa que pagava no aluguel”, diz o securitário, que só precisou dar 20% de entrada no apartamento de R$ 170 mil.

Antes de tomar a decisão, ele chegou a cogitar comprar um apartamento no Rio de Janeiro, alugar e aplicar o dinheiro. No entanto, preferiu adquirir casa própria. “É o sonho de todo brasileiro. Pelo menos estou pagando por uma coisa que é nossa”, afirma. O securitário decidiu parcelar a compra em 30 anos, mas calcula que em seis já conseguirá quitá-lo.

A DECISÃO
Antes de decidir pelo financiamento ou pelo aluguel (que pode ser casado ao financiamento do imóvel na planta ou acompanhado do investimento de uma parte da renda), o ideal é que os compradores pensem em seu plano de vida, afirmam especialistas.

A família deve avaliar bem qual seu principal objetivo e quais esforços pretende fazer para alcança-lo, diz Ricardo Almeida, professor de finanças do Ínsper. “Cada caso é um caso, e antes de fazer uma escolha entre financiamento ou investimentos, é preciso avaliar alguns aspectos.”

Entre os principais aspectos a serem discutidos em família, a professora Ana Castelo, coordenadora dos estudos de construção civil na PUC-SP, destaca as condições do aluguel. Se o contrato for antigo, e a renovação for interessante, pode ser vantagem continuar morando como inquilino mais um tempo, afirma. Durante esse período, o valor poupado ajuda a reduzir a parcela a ser financiada posteriormente.

Ao mesmo tempo, é preciso também avaliar a perspectiva de aumento do valor do aluguel, diz Almeida. Quem pretende seguir o exemplo de Oliveira, que mora de aluguel e investe uma parte da renda, precisa estar atento a isso, destaca do professor. “Se o imóvel valorizar muito, fica mais difícil para o inquilino conseguir manter o aluguel no mesmo valor,” diz.

Para o especialista do Ínsper, caso a família goste muito do novo apartamento, pode ser melhor entrar no financiamento. Ele afirma que a taxa de financiamento imobiliária brasileira, de cerca de 10% mais a taxa referencial (TR) ao ano, não é alta para a pessoa física. “É um juro bom e o comprador terá um ativo que pode se valorizar muito nos próximos anos”, afirma.

Para conseguir se dar bem com a estratégia de combinar o aluguel com o investimento é preciso conhecer muito bem o mercado financeiro para saber como funcionam as aplicações e conseguir boas condições, diz o professor. Para negociar uma boa taxa com produtos bancários, por exemplo, muitas vezes é preciso já ter muito dinheiro.

“Quem optou por investir o dinheiro nos últimos cinco anos, desde 2006, ao invés de fazer o financiamento, se deu mal,” afirma. De lá para cá, os imóveis encareceram bastante em diversas regiões do país e poucos investimentos acessíveis à população de renda mais baixa superaram essa valorização.

Pior ainda do que a desvantagem financeira, diz Almeida, é a sensação de frustração de juntar dinheiro por anos e não conseguir chegar ao valor do apartamento desejado. “Muitas vezes a frustração é enorme, a perda é terrível e a tensão para guardar o dinheiro é enorme.”

Outro aspecto a ser avaliado pelo comprador do imóvel são as perspectivas para os preços. Na opinião de Almeida, não é possível prever que os preços dos imóveis não vão continuar subindo no Brasil. “Os investimentos no Brasil vão continuar crescendo e a classe C vai continuar pressionando os preços dos imóveis para cima,” diz.

Ana Castelo também não acredita na queda dos preços no mercado imobiliário brasileiro.” A demanda das famílias está sendo sustentada pelo crédito e pelo crescimento da renda. Não há a perspectiva no curto prazo de isso mudar,” diz.

Ainda assim, quem preferir continuar no imóvel alugado, enquanto aplica uma parte da renda, pode investir em títulos públicos, poupança, fundos de DI, CDB ou até mesmo ações, para o caso de um investidor com gosto maior pelo risco, sugere Jurandir.

FAZENDO AS CONTAS
Uma conta que pode ajudar a tomar a decisão entre o aluguel e a casa própria é a projeção de quanto dinheiro é possível acumular pagando o aluguel e, ao mesmo tempo, aplicando uma parte da renda. O professor de finanças da FGV, Samy Dana, avalia um exemplo:

Uma pessoa paga R$ 1.500 de aluguel e pretende comprar um imóvel de R$ 450 mil, mas tem apenas R$ 180 mil. Ela tem duas opções:

1) A primeira é aplicar os R$ 180 mil no Tesouro Direto e fazer aplicações mensais de R$ 1 mil durante todo o período. Após os 30 anos, ela terá R$ 2,008 milhões.

2) A outra opção teria sido dar a entrada de R$ 180 mil e financiar os R$ 270 mil restantes. Durante 30 anos, essa pessoa terá que pagar R$ 2.500 ao mês para ter o imóvel. Ao final do período, o imóvel será seu.

"Caso este imóvel valorize para mais de R$ 2 milhões, a segunda opção foi um melhor negócio. Do contrário, a primeira opção teria sido mais vantajosa," diz Dana. Na opinião dele, a primeira opção provavelmente é melhor, pois ele acredita que um imóvel de 30 anos de uso tende a depreciar.

Para fazer as contas, ele levou em conta o rendimento líquido da aplicação do dinheiro e a taxa de financiamento imobiliário.