As áreas em vermelho são as mais afetadas, e as amarelas são áreas em transição e que também sofrem com a estiagem. |
Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
O
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número de municípios que decretaram situação
de emergência por conta da estiagem que atinge o Nordeste não para de crescer e
já é o maior dos últimos cinco anos, segundo levantamento realizado pelo UOL na
sexta-feira (13). Pelo menos 458 municípios estão com decretos em vigor, sendo
que metade deles já tiveram reconhecimento federal. Mais de 140 decretos foram
publicados esta semana. Cerca de 4 milhões de pessoas já estão em áreas
atingidas.
De
acordo com a Secretaria Nacional de Defesa Civil, 222 decretos de emergência já
haviam sido reconhecidos pelo órgão federal. Fora esses mais de 200 municípios
que também decretaram a situação terão a documentação analisada e poderão ser
reconhecidos ou não. Ao todo, houve um aumento de 469% em relação ao número de
cidades com decretos reconhecidos pelo governo federal, em comparação ao ano
passado.
Em
2011, por exemplo, até o dia 5 de abril, o número de municípios com decretos
reconhecidos era de apenas 39. Em 2010 --quando o país teve recorde de
municípios em situação de emergência-- foram 134 municípios homologados por
seca ou estiagem no Nordeste. Segundo o meteorologista e professor da
Universidade Federal de Alagoas, Humberto Barbosa, existe uma transição do La
Niña (responsável por mais chuvas no sertão) para El Niño, o que explica a
maior estiagem neste período de 2012. O professor explicou também que outra
parte do problema está nas mudanças climáticas que ocorrem nos oceanos.
"A
bacia do Atlântico Sul está neutra, ou seja, mais fria do que a bacia do
Atlântico Norte. Em resumo: tem menos umidade na atmosfera do sertão
nordestino. E para piorar o Oceano Pacífico está trocando do La Niña pra El
Niño, o que também não ajuda o semiárido nordestino. As secas prolongadas no
sertão nordestino são oriundas, muitas vezes, da elevação da temperatura das
águas do Oceano Pacífico. Esse aquecimento é o chamado El Niño. Nos anos em que
esse fenômeno ocorre, o sertão sofre com a intensa seca”, explicou.
Segundo
Barbosa, ao contrário do que muitos pensam, a falta de chuvas não atinge toda
região Nordeste. “Ela se concentra numa área conhecida como polígono das secas.
No sertão e no agreste, o tipo de vegetação que se apresenta é a caatinga, o
clima predominante é o semiárido. As áreas em vermelho no mapa representam as
áreas de secas sobre esse polígono”, disse Barbosa.
CIDADES ATINGIDAS
Até
esta sexta, segundo dados das defesas civis estaduais e municipais, pelo menos
458 cidades estão com decretos de situação de emergência em vigor. O número
pode crescer, pois em Estados como Paraíba e Alagoas --que estão sofrendo com a
estiagem-- ainda não publicaram decretos coletivos, o que pode ocorrer nas
próximas semanas.
O
Estado com maior número de cidades atingidas este ano é a Bahia, onde 199
municípios declararam emergência pela estiagem, que já é considerada a mais
severa dos últimos 30 anos. Ao todo, 165 municípios já tiveram os decretos
reconhecidos pelo governo federal, que liberou R$ 10 milhões para ações emergenciais
no Estado. Os demais municípios ainda terão a situação analisada. Ao todo, 2,3
milhões de pessoas estão em áreas atingidas. Por conta da falta de chuva, o
Estado vive também recorde de focos de incêndio. Até hoje, foram registrados
882 focos em toda a Bahia, sendo 99 apenas nos primeiros 12 dias de abril.
No
Rio Grande do Norte, o governo do Estado decretou, nesta quinta-feira (12),
situação de emergência em 139 municípios. O governo informou que os decretos
foram publicados após a conclusão de um parecer técnico detalhando a situação
agroclimática do Estado, apresentado no último dia 5. Segundo a Emparn (Empresa
de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte), as chuvas entre janeiro e
março foram consideradas irregulares e de baixo volume. A estimativa é que 500
mil pessoas sejam afetadas.
No
Piauí, a situação também é considerada grave. Segundo a Defesa Civil Estadual,
82 municípios já tem decretos de emergência homologados pelo Estado --número
pode ser maior, já que nem todos teriam entregue a documentação ao Estado.
Nesta sexta-feira, o ministro interino da Integração Nacional, Alexandre
Navarro visitou Teresina e anunciou a liberação de R$ 15 milhões para combate
aos efeitos da estiagem, sendo R$ 5 milhões liberados de imediato. O governo
também anunciou reforço no abastecimento de água por carros-pipa e distribuição
de cestas de alimentos para atender as cerca de 550 mil pessoas atingidas.
Em
Pernambuco já são 19 municípios. Até a terça-feira (10), 17 municípios já
tinham encaminhado decretos à Defesa Civil Estadual. Na quarta-feira, as
cidades de Serra Talhada e Flores, ambas no sertão do Estado, também decretaram
situação de emergência. Das 19 cidades, seis já tiveram o decreto homologados
pela Defesa Civil Nacional, enquanto os demais aguardam análise. Mais de 400
mil pessoas estão em cidades atingidas, entre elas Petrolina.
Em
Sergipe, também cresceu o número de cidades atingidas esta semana. Segundo novo
balanço da Defesa Civil Estadual, são 17 municípios atingidos, onde mais de 100
mil pessoas moram e estão sendo atingidas.
Na
Paraíba, não existem municípios em situação de emergência. Mas a Defesa Civil
Estadual informou que as prefeituras estão fechando relatório de problemas que
são enfrentados. Segundo as autoridades, o Estado enfrenta problemas sérios.
“Temos 70 municípios mais atingidos, que estão nos encaminhado nos próximos
dias toda a documentação para decretarmos emergência. A situação não é mais
complicada porque temos 77 cidades recebendo carros-pipa do Exército”, informou
ao UOL o gerente estadual da Defesa Civil, Walber Rufino.
Alagoas
possuiu apenas um município em emergência, Água Branca, decretado em janeiro, e
conta com abastecimento de água por meio de carros-pipa. Dos 33 municípios, 18
são os mais afetados pela estiagem e sofrem com o desabastecimento.
No
Ceará, apenas um município decretou emergência, esta semana: Madalena. Segundo
a Defesa Civil Estadual, outros municípios podem decretar situação nas próximas
semanas, já que a falta de chuvas no sertão está causando prejuízos aos
agricultores. Já o Maranhão não tem nenhum município atingido pela falta de
chuva.