Ana Ikeda
UOL - São Paulo
O
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sonho de quem tem uma impressora, seja em casa
ou no trabalho, é que existisse um cartucho que durasse eternamente. Tão logo
surge o aviso na tela de que a tinta acabou, você lembra que a tecnologia ainda
não evolui a esse ponto. Então, na ânsia de “economizar”, usuários acabam
recorrendo ao uso de cartuchos remanufaturados ou reabastecidos. Mas, como diz
a sabedoria popular, “o barato pode sair caro”: impressões podem sair borradas
e a tinta vazar na impressora. Já as empresas que remanufaturam cartuchos
atribuem à fama ruim a companhias “que agem de má fé” e usam peças que já
perderam a vida útil.
Na
propaganda dos cartuchos remanufaturados – feitos a partir de cartuchos
originais “reciclados industrialmente” e abastecidos com tinta – é comum você
encontrar em negrito, grifado e com letras garrafais o aviso de que ele não
oferece risco para sua impressora. Mas não é bem assim, alerta Jorge Moreira
Ferreira, diretor da DComp, empresa que comercializa e conserta impressoras
Epson, Canon, Oki e Roland. “De cada dez impressoras que dão entrada aqui para
conserto, duas foram danificadas por uso de cartuchos não originais”, revela.
Segundo
Ferreira, tanto cartuchos remanufaturados como os reabastecidos (aquele que acaba e o próprio usuário leva a
alguma empresa para ter a tinta recarregada) têm a tendência de soltar mais
tinta dentro do conjunto mecânico da impressora. O líquido pode acabar
pulverizado no interior do equipamento e até mesmo vazar por completo, inutilizando
a impressora. “Isso porque eles utilizam engenharia reversa para reutilizar
aquele cartucho original, mas ele não foi criado para funcionar dessa maneira”,
explica.
Se
o equipamento estava dentro do prazo de garantia, mas foi danificado pelo uso
da peça não recomendada pelo fabricante, a empresa pode não cobrir o conserto
alegando "uso inadequado". Além disso, caso ainda seja possível
“salvar” a máquina após o vazamento da tinta, Ferreira diz que o consumidor
gastaria em média R$ 110,00 no conserto, quase o preço de uma impressora nova.
Empresas
que trabalham com o reabastecimento de cartuchos originais, por outro lado,
afirmam que a qualidade do que produzem é semelhante ao produto ofertado pelas
fabricantes de impressoras. Elas atribuem à fama ruim do cartucho
remanufaturado a “empresas que agem de má fé” e usam peças que já perderam a
vida útil.
Cláudio
Suzuki, gerente de marketing da Max Toner, que atua desde 2001 no Paraná, diz
que o mercado é bastante concorrido e que é preciso desconfiar de quem oferece
cartuchos – sejam originais ou remanufaturados – baratos demais. “Há empresas
vendendo cartuchos falsificados ou reabastecendo originais que já deveriam ter
sido aposentados”, afirma. Preços abaixo da metade cobrado por um original
seriam, de acordo com ele, um forte indício da prática.
QUALIDADE
Sabrina
Lacerda, gerente da categoria de impressoras e suprimentos da HP, aponta outro
problema: as pessoas tendem a pensar que toda a tecnologia se concentra na
máquina, e não no cartucho. “Grande parte da qualidade de uma impressão está no
cartucho ou no toner. Eles são desenvolvidos tecnologicamente para trabalhar em
conjunto à impressora. Sem levar isso em consideração, o consumidor acaba
comprando cartuchos não originais, pensando que não haverá diferença alguma.”
Se
o que o usuário procura é uma impressão de qualidade, diz Sabrina, é preciso
ficar longe dos cartuchos não originais, com maior probabilidade de produzir
materiais borrados, que não duram e com aparência pouco “profissional”.
Resultado: é preciso imprimir de novo e várias vezes o mesmo trabalho, gastando
mais tinta e energia.
Suzuki,
da Max Toner, afirma que a qualidade é semelhante à do produto original.
Segundo ele, alguns clientes comentam que, em casos específicos, chega a ser
superior. “Se algum cartucho imprime borrado ou indica problema, nós fazemos a
troca ou devolução do dinheiro.” No caso de dano à impressora, o ressarcimento
do aparelho só ocorre se a assistência técnica fornecer um laudo atribuindo a
“culpa” ao cartucho remanufaturado.
Segundo
Suzuki, a vida útil de um cartucho original que passa pela remanufatura varia
muito de acordo com o modelo, mas em geral ele dura três reabastecimentos.
"Mas muita empresa age de má fé [reabastecendo mais vezes] e acaba
prejudicando quem trabalha corretamente.”
ESTUDO
Um
estudo feito pela Quality Logic para a HP mostrou que quatro em cada dez
cartuchos alternativos apresentaram problemas variados durante o uso, contra
nenhuma ocorrência no caso do produto original. No item qualidade de impressão,
apenas seis em cada dez materiais impressos tinham qualidade aceitável no caso
dos alternativos, contra nove em dez dos cartuchos originais.
“Um
em cada três cartuchos de tinta ‘alternativos’ falham. No caso de toner para
impressora a laser, até 70% apresentam problemas durante sua vida útil”,
menciona a representante da HP. “Você não vai querer imprimir um currículo, uma
foto ou até proposta para uma empresa nessas condições.”
Um
fator que estimularia a compra de cartuchos originais, segundo Sabrina, é a
queda do seu preço nos últimos tempos – alguns chegam a custar R$ 20, cerca de
metade do valor de um produto similar há cinco anos. “Com a evolução da tecnologia, os preços
estão cada vez mais acessíveis. Fora isso, há maior oferta de equipamentos para
cada perfil de consumidor.”
Por
fim, se o consumidor estiver preocupado em reutilizar o cartucho como forma de
“agredir menos” o meio ambiente, grande parte das fabricantes de impressoras
possui programas próprios de reciclagem da peça - caso da Epson, Lexmark,
Xerox, Ricoh e Samsung. O descarte dos cartuchos usados em geral é feito nos
próprios pontos de venda. A HP, por sua vez, mantém um serviço de retirada do
produto usado para uma quantidade acima de cinco unidades.