Carla Astuti
Comunidade Canção Nova
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em dia, já não é tão difícil falar sobre depressão; afinal, ela já foi
classificada como “o mal do século”. Ainda há muito preconceito quando se fala
nela.
Muitas pessoas acham
que depressão é doença “de quem não tem o que fazer”, de pessoas fracas, que
não rezam nem lutam, mas isso não é verdade. Depressão é uma doença e, com
certeza, todos os que sofrem desse mal não gostariam de estar nesta situação.
Assumir
a depressão chega a ser humilhante, pois, além de tudo, é preciso consultar um
psiquiatra; daí, outro preconceito: psiquiatra é “médico de louco”. Eu costumo
dizer que, na verdade, é para não ficar louco!
O
maior risco da depressão é camuflá-la. Quanto mais tempo demoramos para buscar
ajuda, mais sofrimento enfrentamos. Partilho aqui, com vocês, a minha
experiência:
Há
vários anos, quando partilhava minha vida com Irmã Lucimar, em Londrina (PR),
percebi que seu semblante mudou, e ela me disse: "Carla, eu tenho a
impressão de que você está depressiva, mas não posso afirmar, porque somente um
psiquiatra pode dar o diagnóstico correto". Pronto. Meu mundo caiu! Como
assim? Logo eu? Uma missionária da Comunidade Canção Nova, há tantos anos,
poderia estar com depressão?
Assim
que o choque passou, comecei a me analisar. Tenho pai e mãe depressivos, então,
seria difícil fugir desta realidade. Chegando a Cachoeira Paulista (SP),
procurei um psiquiatra que, a princípio, diagnosticou uma bipolaridade. Iniciei
o tratamento com medicação, mas logo ele foi interrompido, pois engravidei da
Sofia. Mais uma vez, meu mundo caiu! Como conduzir uma gravidez, aos 38 anos,
depressiva e sem medicação?
Foi
aí que Deus me mostrou Sua grandiosidade. Foi à melhor gravidez que vivi, sem
nenhum problema! A Sofia nasceu, no final das 40 semanas de gestação, de parto
normal.
Passado
um tempo, resolvi retomar o tratamento, mas quis trocar de médico, uma vez que
não me via bipolar, pois não sentia os picos de euforia. Busquei outro
profissional e ele me diagnosticou com “distimia” (depressão crônica, de
intensidade moderada); ela não tem cura, mas é controlável.
Hoje,
esta é a minha realidade. Sei da enfermidade e faço tratamento com medicação e
psicoterapia; além de me esforçar para fazer uma atividade física, o que acho
muito difícil. É preciso um esforço sobrenatural, mas consigo conviver bem, no
dia a dia, e ter mais qualidade de vida: pessoal, familiar, comunitária e
profissional.
Há
dias em que dá aquela tristeza da alma, vontade de não fazer nada, mas sei o
quanto ists não me fará bem e dou uma resposta diferente. Há dias também que
necessitamos fazer algo diferente, algo só nosso, sair sozinha, comer algo que
tem vontade, etc. Não é feio ter desejos e necessidades, muito menos pensar em
nós de vez em quando. Pelo contrário, nos faz bem.
Não
posso deixar de relatar aqui a colaboração da família e dos amigos mais
próximos. O que mais nos faz bem é sermos acolhidos naquilo que estamos
vivendo, sabermos que não somos peso, e que todos, a seu modo, preocupam-se e
querem nos ajudar.
Por isso, se você,
hoje, descobriu ou foi diagnosticada (o) com depressão, não se desespere! É
possível conviver com ela, basta buscar ajuda profissional apropriada.
Tem
jeito! Mas do jeito de Deus; não do meu!