Ingrid Tavares
Do UOL, em São Paulo
A
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melhora no transporte público e trânsito é uma
das prioridades para o paulistano, perdendo apenas para saúde, segurança
pública e educação. Mas o clamor por transporte público de qualidade tem duas
faces, aqueles que realmente optariam pelo sistema e aqueles que só querem que
os outros façam esta opção para desafogar o trânsito. De um jeito ou de outro,
a estimativa é que pelo menos 30% da frota ativa da cidade deveria parar de
circular para melhorar o problema.
Segundo
estudo recente da Rede Nossa São Paulo, para diminuir a bagunça no espaço
público, os paulistanos apontaram como prioridades de investimentos do poder público
a construção e a ampliação das linhas de metrô e de trem (60%) e dos corredores
de ônibus (41%). Segundo Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva
da Rede Nossa São Paulo, a melhoria faria boa parte dos entrevistados começar a
usar o transporte coletivo com mais frequência.
“As pessoas querem que o transporte público da cidade
melhore, sim. Mas não é para elas usarem os ônibus, mas para que os que estão a
sua frente liberem espaço no trânsito”, pondera Eduardo Vasconcellos, membro
da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), durante encontro
promovido pelo IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) em comemoração ao
Dia Mundal Sem Carro, em 22 de setembro. “Antes de pedir a pressão da sociedade, a
gente tem de entender melhor que sociedade é esta”, afirma.
Vasconcellos
afirma que há uma impossibilidade física na rua para comportar mais automóveis
– mais de 7 milhões de carros constam nos registros do Detran-SP (Departamento
Estadual de Trânsito de São Paulo). Para a cidade voltar a andar e criar uma
relação mais justa com outros meios de locomoção, “é preciso tirar 30% da frota
‘ativa’de São Paulo, que é cerca de 4 milhões de carros”, diz.
RESTRIÇÃO
Para
que boa parte dos paulistanos troque o carro por ônibus, trens e metrô –
atualmente, mais de 2 milhões afirmam usar o transporte individual todos os
dias da semana –, é preciso combater visões políticas desgastadas para
redistribuir melhor o espaço viário urbano, diz Alexandre Gomide, diretor do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
“As promessas eleitorais ficam na retórica da melhoria do
transporte público, mas os candidatos continuam a construir viadutos só para
carros, vias que não podem ser usadas por pedestres, bicicletas ou ônibus”, afirma o
economista. “Enquanto isso acontecer, as classes ricas não vão deixar o carro
facilmente. O automóvel tem de deixar de ser protagonista para se tornar um
coadjuvante da cidade.”
Gomide
foi o principal articulador da nova lei de Diretrizes da Política Nacional de
Mobilidade Urbana, que exige dos municípios com mais de 20 mil habitantes
apresentar planos de mobilidade até 2015, entre outros pontos. A intenção, diz,
é dar instrumentos para que as prefeituras melhorem a estrutura viária. Segundo
os especialistas, os governos precisam restringir o uso do carro para que essa
divisão saia do papel e chegue até ao espaço público.
"Sou contra o pedágio urbano, sou contra a
discriminação econômica. Ela já existe em vários aspectos, não precisamos de
mais uma. A gente não pode esperar restrições econômicas, mas políticas
públicas”,
diz Broinizi. "Quando a gente fizer essa divisão da estrutura urbana entre
transporte público, bicicletas, pedestres, a gente restringe o uso do carro. E
a gente dá, também, alternativas mais sustentáveis para as pessoas e para as
cidades”, conclui.
TRÂNSITO DE SP EM NÚMEROS
-2h33m é o tempo médio de deslocamento do
paulistano –independente do meio de transporte (individual ou coletivo)
-1 metro quadrado é o espaço usado por pedestre ou
ônibus no sistema viário
-2 metros quadrados é o tamanho da área que a
bicicleta toma da rua
-8 metros quadrados é a área do espaço público
usada pela motocicleta
-50 metros quadrados é o tamanho que um carro ocupa
no espaço público
-44 mil mortes foram causadas pelo trânsito em 2011
-500 mil carros nas ruas já geram congestionamento
-2 milhões de pessoas usam o carro todos os dias da
semana
-4 milhões de carros compõem a frota "ativa”
nas ruas
-7 milhões é o tamanho da frota cadastrada de
carros
-17% da população aprova a adoção do pedágio urbano
-30% dos carros precisam deixar de circular na
cidade para melhorar o trânsito
-37% acham positiva a medida de ampliar o rodízio
de veículos para dois dias da semana
-41% da população pede mais linhas de metrô
-65% dos motoristas frequentes abandonariam o carro
se o transporte público fosse eficiente
-80% dos paulistanos dizem que o trânsito da cidade
é péssimo ou ruim
-88% pedem a construção de mais ciclovias
Fontes: ANTP,
Detran, Idec, IDS, Ipea, Rede Nossa São Paulo
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