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a casa própria é o sonho de muitos brasileiros. Mas nem todos têm condições
financeiras de iniciar o financiamento do imóvel, ou a estabilidade necessária
para dar esse passo tão importante. Por isso, o aluguel pode surgir como a
opção mais vantajosa em alguns casos, como no de jovens em início de carreira
ou casais que não precisem de um apartamento tão amplo, afirmam especialistas.
O
analista de sistemas Rafael Oliveira, de 28 anos, se encaixa em uma dessas
situações. Morador do Rio de Janeiro, ele conta que optou pelo aluguel porque
queria ficar mais próximo do local onde trabalha, no Centro da cidade. “Como
não dispunha de capital suficiente para adquirir um imóvel na região desejada,
achei mais interessante recorrer ao aluguel do que a um financiamento
imobiliário”, afirma o jovem, que mora no Flamengo.
Para
ele, longe de jogar dinheiro fora, o aluguel é a melhor forma de economizar
para comprar um imóvel próprio no futuro. “Dizem que, ao final do
financiamento, pelo menos teremos uma casa em nosso nome. Mas o que as pessoas
ignoram é o fato de que, com os exorbitantes juros brasileiros, ao final de um
financiamento de 30 anos teremos jogado mais dinheiro fora com o pagamento de
juros do que com o pagamento de aluguel durante o mesmo período”, afirma.
Todos
os meses, Oliveira investe 10% da renda para adquirir o imóvel. Pelas suas
contas, ele deve conseguir comprar a casa própria, à vista, dentro de cinco
anos. Mas o jovem admite que é difícil ter a disciplina necessária para aplicar
parte do salário. “Nem sempre é fácil abrir mão de outros sonhos de consumo em
troca de um objetivo que só será alcançado após alguns anos de economia”, diz.
COMO
CONSEGUIR DINHEIRO PARA COMPRAR, CONSTRUIR OU REFORMAR SUA CASA
Para
o professor Jurandir Macedo, do Instituto de Educação Financeira, a escolha do
analista de sistemas, de combinar o pagamento do aluguel ao investimento de
parte da renda, foi acertada. “Comprar imóvel representa um risco. Os preços
subiram muito, e os imóveis sofrem muita depreciação. Quanto mais caro o
imóvel, maior o custo do dinheiro e menos vantajoso é comprar, pois o aluguel é
mais barato”, explica.
ALUGUEL
E FINANCIAMENTO
Outra
opção é a combinação do pagamento do aluguel e das parcelas do financiamento do
novo imóvel. Essa é a situação da bancária e analista de projetos Karina Mendes
Barbosa, de 21 anos. Ela e o marido decidiram morar de aluguel em um bairro de
Santo André (SP) enquanto não encontravam o imóvel de seus sonhos. “Esse ano
encontramos a casa que queríamos, na Vila Prudente (bairro de São Paulo).
Porém, ela está terminando de ser construída. Então, até ficar pronta,
continuamos com o aluguel”, explica.
A
situação é parecida com a de Oliveira. A diferença é que ele investe uma parte
dos ganhos para comprar o imóvel à vista no futuro (ou reduzir a parcela a ser
financiada). Karina, por sua vez, se comprometeu com a dívida do financiamento.
Para adequar o orçamento aos dois pagamentos, ela e o marido pararam de viajar
e reduziram a ida para bares, mas sem cortar totalmente o lazer. “É importante
você ter uma vida ‘social’, pois senão acaba tendo a sensação de que você é
‘escravo’ do seu trabalho e de suas dívidas”, afirma.
FINANCIAMENTO
Mas,
para algumas pessoas, o sonho de se mudar logo para a casa própria é forte
demais para ser ignorado. Apesar de imóveis prontos para morar, em geral, serem
mais caros do que os vendidos na planta – como é o caso de Karina – essa opção
tem a vantagem de eliminar o pagamento do aluguel. O securitário Thiago Guedes
Rocha, de 30 anos, é um exemplo desta situação.
Funcionário
do Bradesco, ele foi transferido do Rio de Janeiro para Manaus. No início,
pagava um aluguel de R$ 1 mil por um apartamento de dois quartos em um bairro
valorizado. No entanto, na renovação o valor subiu um pouco, e ele e a esposa
decidiram financiar a casa própria.
Depois
de pesar as duas possibilidades, Rocha decidiu comprar o apartamento. “Hoje
pago a mesma coisa que pagava no aluguel”, diz o securitário, que só precisou
dar 20% de entrada no apartamento de R$ 170 mil.
Antes
de tomar a decisão, ele chegou a cogitar comprar um apartamento no Rio de
Janeiro, alugar e aplicar o dinheiro. No entanto, preferiu adquirir casa
própria. “É o sonho de todo brasileiro. Pelo menos estou pagando por uma coisa
que é nossa”, afirma. O securitário decidiu parcelar a compra em 30 anos, mas
calcula que em seis já conseguirá quitá-lo.
A
DECISÃO
Antes
de decidir pelo financiamento ou pelo aluguel (que pode ser casado ao
financiamento do imóvel na planta ou acompanhado do investimento de uma parte
da renda), o ideal é que os compradores pensem em seu plano de vida, afirmam
especialistas.
A
família deve avaliar bem qual seu principal objetivo e quais esforços pretende
fazer para alcança-lo, diz Ricardo Almeida, professor de finanças do Ínsper.
“Cada caso é um caso, e antes de fazer uma escolha entre financiamento ou
investimentos, é preciso avaliar alguns aspectos.”
Entre
os principais aspectos a serem discutidos em família, a professora Ana Castelo,
coordenadora dos estudos de construção civil na PUC-SP, destaca as condições do
aluguel. Se o contrato for antigo, e a renovação for interessante, pode ser
vantagem continuar morando como inquilino mais um tempo, afirma. Durante esse
período, o valor poupado ajuda a reduzir a parcela a ser financiada
posteriormente.
Ao
mesmo tempo, é preciso também avaliar a perspectiva de aumento do valor do
aluguel, diz Almeida. Quem pretende seguir o exemplo de Oliveira, que mora de
aluguel e investe uma parte da renda, precisa estar atento a isso, destaca do
professor. “Se o imóvel valorizar muito, fica mais difícil para o inquilino
conseguir manter o aluguel no mesmo valor,” diz.
Para
o especialista do Ínsper, caso a família goste muito do novo apartamento, pode
ser melhor entrar no financiamento. Ele afirma que a taxa de financiamento
imobiliária brasileira, de cerca de 10% mais a taxa referencial (TR) ao ano,
não é alta para a pessoa física. “É um juro bom e o comprador terá um ativo que
pode se valorizar muito nos próximos anos”, afirma.
Para
conseguir se dar bem com a estratégia de combinar o aluguel com o investimento
é preciso conhecer muito bem o mercado financeiro para saber como funcionam as
aplicações e conseguir boas condições, diz o professor. Para negociar uma boa
taxa com produtos bancários, por exemplo, muitas vezes é preciso já ter muito
dinheiro.
“Quem
optou por investir o dinheiro nos últimos cinco anos, desde 2006, ao invés de
fazer o financiamento, se deu mal,” afirma. De lá para cá, os imóveis
encareceram bastante em diversas regiões do país e poucos investimentos
acessíveis à população de renda mais baixa superaram essa valorização.
Pior
ainda do que a desvantagem financeira, diz Almeida, é a sensação de frustração
de juntar dinheiro por anos e não conseguir chegar ao valor do apartamento
desejado. “Muitas vezes a frustração é enorme, a perda é terrível e a tensão
para guardar o dinheiro é enorme.”
Outro
aspecto a ser avaliado pelo comprador do imóvel são as perspectivas para os
preços. Na opinião de Almeida, não é possível prever que os preços dos imóveis
não vão continuar subindo no Brasil. “Os investimentos no Brasil vão continuar
crescendo e a classe C vai continuar pressionando os preços dos imóveis para
cima,” diz.
Ana
Castelo também não acredita na queda dos preços no mercado imobiliário brasileiro.”
A demanda das famílias está sendo sustentada pelo crédito e pelo crescimento da
renda. Não há a perspectiva no curto prazo de isso mudar,” diz.
Ainda
assim, quem preferir continuar no imóvel alugado, enquanto aplica uma parte da
renda, pode investir em títulos públicos, poupança, fundos de DI, CDB ou até
mesmo ações, para o caso de um investidor com gosto maior pelo risco, sugere
Jurandir.
FAZENDO
AS CONTAS
Uma
conta que pode ajudar a tomar a decisão entre o aluguel e a casa própria é a
projeção de quanto dinheiro é possível acumular pagando o aluguel e, ao mesmo
tempo, aplicando uma parte da renda. O professor de finanças da FGV, Samy Dana,
avalia um exemplo:
Uma
pessoa paga R$ 1.500 de aluguel e pretende comprar um imóvel de R$ 450 mil, mas
tem apenas R$ 180 mil. Ela tem duas opções:
1)
A primeira é aplicar os R$ 180 mil no Tesouro Direto e fazer aplicações mensais
de R$ 1 mil durante todo o período. Após os 30 anos, ela terá R$ 2,008 milhões.
2)
A outra opção teria sido dar a entrada de R$ 180 mil e financiar os R$ 270 mil
restantes. Durante 30 anos, essa pessoa terá que pagar R$ 2.500 ao mês para ter
o imóvel. Ao final do período, o imóvel será seu.
"Caso
este imóvel valorize para mais de R$ 2 milhões, a segunda opção foi um melhor
negócio. Do contrário, a primeira opção teria sido mais vantajosa," diz
Dana. Na opinião dele, a primeira opção provavelmente é melhor, pois ele
acredita que um imóvel de 30 anos de uso tende a depreciar.
Para
fazer as contas, ele levou em conta o rendimento líquido da aplicação do
dinheiro e a taxa de financiamento imobiliário.
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