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Ver
a justiça sendo feita ativa o sistema de recompensa do cérebro, o que nos deixa satisfeitos
O que é justo? Uma
definição
simples é "aquilo que corresponde aos seus valores de certo ou
errado". O senso de justiça,
ao se atrelarão certo/ errado,
é, portanto moral -e, por
isso, muitos esperariam que
fosse racional. Mas não é:
tanto os julgamentos morais
quanto o senso de justiça são altamente emocionais. E é bom que seja assim.
Se
fôssemos guiados só pela
racionalidade, aceitaríamos
qualquer oferta que nos beneficiasse,
por mais injusta
que fosse (considerando que
qualquer dinheiro é melhor do que nenhum), e pouco
importaria se ofertas injustas são intencionais ou não.
No
entanto, aceitamos deixar
de ganhar, ou mesmo perder tempo e dinheiro,
para evitar
injustiças -o que soa completamente irracional-, e até oferecemos compreensão a
quem é obrigado a ser injusto
conosco. Com isso, ganha
a sociedade, e nós também
ganhamos: a longo prazo,
nossa rejeição de injustiças contribui
para coibir novas ofertas injustas.
O detalhe importante é que a aversão à injustiça é automática e sem esforço. Esta semana, por exemplo, a rádio onde eu era colunista cancelou meu boletim diário, mas queria que eu continuasse participando - de graça! - de um programa de entrevistas de grande audiência. Racionalmente, qualquer participação na rádio deveria ser melhor do que nenhuma participação. Mas meu detector de injustiças, situado na insula anterior do meu córtex, falou mais alto: "estão sendo intencionalmente injustos comigo". Rejeitei
a oferta e deixei a rádio. E estou
felicíssima com a minha decisão.
Quanto mais a insula é sensível a essas violações do que cada um julga socialmente aceitável, maior o grau de aversão de cada pessoa à injustiça
(minha insula deve viver aos berros). Às
v e z e s, c o n t u d o, propostas injustas acabam sendo aceitas.
Nesses casos, o que se encontra no cérebro é uma menor ativação da insula (a injustiça é repulsiva, mas suportável) e um aumento da atividade
na região pré-frontal
que suprime emoções negativas. Ou seja: tolerar tratamentos injustos requer muito controle
emocional.
Por
outro lado, ver a justiça
ser feita leva à ativação do sistema de recompensa do cérebro, o
que nos deixa involuntariamente
satisfeitos. E assim
caminha a humanidade:
repudiando injustiças e preferindo
a justiça sem precisar
pensar muito a respeito.
É, há esperanças...
SUZANAHERCULANO-HOUZEL
é neurocientista,
professora da UFR], autora do livro
"Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (Ed.
Sextante)
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