CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA
COLUNISTA DA FOLHA
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eu era criança, ia à casa da minha avó uma vez por semana. Comíamos sempre a
mesma comida: frango assado, cogumelos refogados, batata na manteiga e, de
sobremesa, strudel de maçã (um tipo de
torta) com creme de leite.
De
vez em quando, tinha um peixe frito, mas o forte mesmo era esse menu descrito
aí. Nunca mais comi cogumelos refogados como os da casa da minha avó, mas esses
momentos que passávamos por lá são inesquecíveis (talvez porque ela deixava a gente tomar guaraná, e a minha mãe não).
Eu
aprendi a cozinhar com minha avó. Primeiro foram biscoitinhos amanteigados. Ela
fazia a massa e a gente ficava cortando com os cortadores de estrela. Depois
foi um estrogonofe de peixe, que ela havia ensinado ao meu pai, quando ele era
pequeno.
Na
época, ele precisou de uma receita para uma competição de culinária no grupo de
escotismo (passou anos reclamando por ter ficado em segundo lugar). O que eu
não percebia naquele momento e só fui reconhecer adulta é o quanto aprender a
cozinhar é libertador.
Libertador
porque não dependemos de outros para ter a nossa comida, porque eu não tenho
medo de receita nenhuma e porque, quando fui morar sozinha, não passei pelo
aperto de comer miojo todos os dias. Eu já sabia fritar um ovo e fazer arroz. O
básico.
A
formação de indivíduos independentes se faz de diversas maneiras, algumas bem
comuns, como pela cozinha. Como diria a mestra Nina Horta, cozinhar é um modo
de se ligar.
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