segunda-feira, 13 de agosto de 2012

QUAL A SUA GRAÇA?

Pe. Manoel Henrique de Melo Santana

Padre Manoel Henrique de Melo Santana

A
 palavra graça tem suas raízes no hebraico e grego, passando depois para o latim e o português. Sempre me chamou a atenção a pergunta que alguém faz quando quer indagar o nome de outrem. Ainda tem sido esta uma prática encontrada no interior. A meu ver, não dar o seu nome e primeiramente conceber-se como graça tem algo de proverbial ou sapiencial. Eu sou “graça”, agraciado, alguém favorecido. A vida é um dom, uma graça, mistério e milagre simultaneamente, algo doado, recebido por alguém.

O processo de escolher o nome para alguém, prática feita pelos pais e familiares, envolve intuições e motivações subjetivas, verdadeira inspirações, até mesmo quando damos nomes aos animais ou a outros objetos. O nome traz o sentido, observe-se como entre os índios se escolhe o nome que vai identificar o novo membro da tribo, com suas características pessoais e tribais. O outro é “graça”, é misterioso ser humano, que não se vê apenas com os olhos, mas, sobretudo com o coração, aliás, vê melhor quem vê com o coração. Os olhos podem enganar-se, encantar-se com falsos brilhos, mesmo o olhar “científico”, sem o espírito, é mera ilusão, como são pequenos os doutores que apenas vêem coisas. Aliás, um doutor sem fundamentos filosóficos e antropológicos não existe.

Agora penso em Graça Tenório, radialista, neste momento pleiteando uma vaga na vereança de Maceió. Conheci-a mais de perto nos tempos da Igreja de São Pedro. Mulher de fé, lutadora, guerreira, que não se intimida com o mundo dos homens. No rádio, seus programas são vivos, provocadores, cheios de graça. Não havia ainda chegado a Maceió o Movimento dos Casais de 2ª união, quando Graça liderou o um movimento de reunir casais de 2º casamento, divorciados ou não, na Igreja de São Pedro. Trazendo uma carga muito grande de rejeição e discriminação, o sentimento de marginalização na Igreja é doloroso. Dom Edvaldo lhe disse, certa vez, que o verdadeiro lugar dos divorciados é na Igreja.

Ouvir seus relatos e seus receios de estarem na Igreja, muitas vezes, escondem-se por detrás de alguma janela ou coluna, é uma verdadeira ladainha de dores e choros. Sentem-se realmente apedrejados pela comunidade, que frequentemente de forma farisaica, viram as costas para o irmão ou irmã. Graça Tenório falou alto sobre estas questões tão humanas, convidou assessorias para ajudar nos encontros, que aconteciam na Igreja de São Pedro, entre eles o nosso querido Padre Lemos.  Corajosamente posicionou-se de dentro da Igreja, sem jamais negar a sua pertença filial à Igreja de Jesus Cristo, cujo Evangelho da misericórdia não podia esquecer. Graça deixou o seu testemunho de fé e exemplo de vida. Sua luta pode crescer e ganhar força dependendo do lugar de onde pode falar, no caso de uma cadeira pública.

Por falar em graça, eu quero agradecer a Deus primeiramente, pois reconheço que, apesar dos infortúnios, tudo é graça, “tudo é do Pai”. Devo a muitos a graça de ser padre, desde Viçosa, Cajueiro, Pilar e Ponta Verde. Dia 15 de agosto, próxima quarta-feira, estarei celebrando com você ao meu lado mais um ano de sacerdócio, às 19 horas, na Igreja das Graças, na Levada, com a benevolência de Padre Ernesto. Curvo-me reverente diante de Deus, que me fez e me chamou. Aos meus amigos e irmãos de ontem e de hoje, especialmente, aos de São Pedro Apóstolo, a quem devo tantas graças, inclusive, a graça de poder estudar na França. Foram estes que me doaram esta graça. Neste momento, o meu agradecimento vai até à Prefeitura de Pilar, por ter acreditado em mim.

Ao mesmo tempo, entristeço-me quando vejo me apontarem para a riqueza da Paróquia de São Pedro, que tem muito dinheiro e que seu povo é rico. Não permitam tanta maldade, uma vez que o dinheiro mata a graça e transforma as relações em negociações e exploração. Quem apenas pensa em dinheiro, materializa a vida e Deus se torna um ídolo poderoso e manipulável. Obrigado, Senhor!

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