Pe. Manoel Henrique de Melo Santana |
Padre Manoel Henrique de Melo Santana
A
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palavra graça tem suas raízes no hebraico e
grego, passando depois para o latim e o português. Sempre me chamou a atenção a
pergunta que alguém faz quando quer indagar o nome de outrem. Ainda tem sido
esta uma prática encontrada no interior. A meu ver, não dar o seu nome e
primeiramente conceber-se como graça tem algo de proverbial ou sapiencial. Eu
sou “graça”, agraciado, alguém favorecido. A vida é um dom, uma graça, mistério
e milagre simultaneamente, algo doado, recebido por alguém.
O
processo de escolher o nome para alguém, prática feita pelos pais e familiares,
envolve intuições e motivações subjetivas, verdadeira inspirações, até mesmo
quando damos nomes aos animais ou a outros objetos. O nome traz o sentido,
observe-se como entre os índios se escolhe o nome que vai identificar o novo
membro da tribo, com suas características pessoais e tribais. O outro é
“graça”, é misterioso ser humano, que não se vê apenas com os olhos, mas,
sobretudo com o coração, aliás, vê melhor quem vê com o coração. Os olhos podem
enganar-se, encantar-se com falsos brilhos, mesmo o olhar “científico”, sem o
espírito, é mera ilusão, como são pequenos os doutores que apenas vêem coisas.
Aliás, um doutor sem fundamentos filosóficos e antropológicos não existe.
Agora
penso em Graça Tenório, radialista, neste momento pleiteando uma vaga na
vereança de Maceió. Conheci-a mais de perto nos tempos da Igreja de São Pedro.
Mulher de fé, lutadora, guerreira, que não se intimida com o mundo dos homens.
No rádio, seus programas são vivos, provocadores, cheios de graça. Não havia
ainda chegado a Maceió o Movimento dos Casais de 2ª união, quando Graça liderou
o um movimento de reunir casais de 2º casamento, divorciados ou não, na Igreja
de São Pedro. Trazendo uma carga muito grande de rejeição e discriminação, o
sentimento de marginalização na Igreja é doloroso. Dom Edvaldo lhe disse, certa
vez, que o verdadeiro lugar dos divorciados é na Igreja.
Ouvir
seus relatos e seus receios de estarem na Igreja, muitas vezes, escondem-se por
detrás de alguma janela ou coluna, é uma verdadeira ladainha de dores e choros.
Sentem-se realmente apedrejados pela comunidade, que frequentemente de forma
farisaica, viram as costas para o irmão ou irmã. Graça Tenório falou alto sobre
estas questões tão humanas, convidou assessorias para ajudar nos encontros, que
aconteciam na Igreja de São Pedro, entre eles o nosso querido Padre Lemos. Corajosamente posicionou-se de dentro da
Igreja, sem jamais negar a sua pertença filial à Igreja de Jesus Cristo, cujo
Evangelho da misericórdia não podia esquecer. Graça deixou o seu testemunho de
fé e exemplo de vida. Sua luta pode crescer e ganhar força dependendo do lugar
de onde pode falar, no caso de uma cadeira pública.
Por
falar em graça, eu quero agradecer a Deus primeiramente, pois reconheço que,
apesar dos infortúnios, tudo é graça, “tudo é do Pai”. Devo a muitos a graça de
ser padre, desde Viçosa, Cajueiro, Pilar e Ponta Verde. Dia 15 de agosto,
próxima quarta-feira, estarei celebrando com você ao meu lado mais um ano de
sacerdócio, às 19 horas, na Igreja das Graças, na Levada, com a benevolência de
Padre Ernesto. Curvo-me reverente diante de Deus, que me fez e me chamou. Aos
meus amigos e irmãos de ontem e de hoje, especialmente, aos de São Pedro
Apóstolo, a quem devo tantas graças, inclusive, a graça de poder estudar na
França. Foram estes que me doaram esta graça. Neste momento, o meu
agradecimento vai até à Prefeitura de Pilar, por ter acreditado em mim.
Ao
mesmo tempo, entristeço-me quando vejo me apontarem para a riqueza da Paróquia
de São Pedro, que tem muito dinheiro e que seu povo é rico. Não permitam tanta
maldade, uma vez que o dinheiro mata a graça e transforma as relações em negociações
e exploração. Quem apenas pensa em dinheiro, materializa a vida e Deus se torna
um ídolo poderoso e manipulável. Obrigado, Senhor!
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