A maioria muda pensando em si
e sai pensando em si
*Pe. Zezinho,
scj
alemos
dos convertidos para alguma fé. Uma coisa é seguir em frente na mesma fé
herdada dos pais e assumida pessoalmente e outra optar por outro púlpito,
outros pregadores, outras maneiras de orar, outra forma de ver a ação de Deus
na pessoa e na comunidade.
De
repente, alguém ferido no corpo e na alma encanta-se com as notícias de que, em
determinados templos, existem curas e palavras de conforto. Não vai lá pelos
dogmas e sim pela cura e pelo conforto. Em questão de fé, o sentir pesa muito
mais do que o intuir ou o entender.
Na
verdade, o convertido pensa em si, depois em Deus, Ele quer respostas que
alguém lhe oferece em nome do Senhor e são aquelas respostas prometidas que
levam um convertido ao novo templo. Ele queria e por enquanto achou um lugar e
um ambiente que favoreça a prática de sua fé. Se vier a decepção sempre haverá
outros templos e outras igrejas… Muda-se!
Quando
o culto e as pregações da igreja na qual foi batizado não satisfazem e o
entusiasmo e as pregações da outra igreja trazem respostas tipo: "Deus
é", "Deus quis", "Deus quer", "Você foi
escolhido", ele se identifica. "É a palavra que eu andava
procurando…". Paulo toca no assunto quando escreve a Timóteo sobre os que
procurariam outros mestres que diriam ou desejariam ter ouvido. (cf. Tm
4,-1-5). Sentir-se escolhido e eleito é outra coisa do que ser um no meio de
bilhões. Esta singularização já levou muitas pessoas da grande para as pequenas
comunidades onde são mais notadas e acolhidas.
O
gigantismo nem sempre ajuda uma igreja. Não há ministros para cuidar de tanta
gente. Equivale ao hipermercado com mais de 100 mil visitas diárias e número
insuficiente de funcionários. A pessoa procura melhor atendimento. Isso tem
acontecido com a Igreja católica, além de outras diferenças que levaram muitos
fiéis a procurar igrejas menores onde se sentem menos número. Não é o dogma que
as leva para lá. É a atenção e são as promessas e garantias de resultado que
todos os dias são mostrados lá na frente ou na televisão. Vão para os templos
onde a graça acontece e é mostrada.
Os
católicos fazem o mesmo quando vão a lugares de peregrinações ou movimentos
onde se sentem singularizados. “Você” e “Deus” e “Jesus” são as três palavras
mais usadas por estes pregadores. Corresponde ao que estes fiéis queriam ouvir.
Convertem-se
porque querem o melhor para si. Depois é que começam a querer o louvor de Deus
e o melhor para os outros. Mas quando vem a dificuldade e este fiel que mudou
de fé percebe que não aconteceu o melhor, a doença voltou, os problemas
voltaram, a filha não mudou, o marido não mudou, ou voltam, vão procurar o mais
novo pregador e a mais nova igreja que apareceu na televisão. É para lá que
fazem romaria. Há um novo pregador bombando na mídia. E vão ouvi-lo porque sua
religião é altamente personalizada da mesma forma que é sua fé. Mudam também o
enfoque a partir do pregador em evidência. Se ontem era Jesus, depois era o
Espírito Santo, agora é o Pai. Se ontem era a graça Universal, agora é o Poder
Mundial. Se ontem era o “não sofra mais”, agora é o “não espere mais”. Decida!
Os nossos tempos, à
mercê da cultura do indivíduo soberano, geraram milhões de migrantes da fé. Mudam com enorme
facilidade e sem nenhum drama de consciência de um templo para o outro e de um
caminho para o outro. E ouvem os pregadores a dizer que se não estão
confortáveis num caminho devem buscar sua realização no outro porque Deus criou
muitos caminhos para que o indivíduo exerça sua liberdade de escolha. Na
maioria das vezes é o jeito de o pregador justificar por que ele mesmo mudou
duas ou três vezes, trocou de igreja ou de grupo de espiritualidade e até
fundou a própria, sempre dizendo que Deus queria a mais nova igreja.
“Você
não está feliz onde está? Venha conosco!” É o que se ouve nesses púlpitos. Mas
não há muita lógica, porque nunca se ouve dos mesmos pregadores: “Você não é
está feliz conosco? Procure outra igreja”. Aí, não! Vir, pode, ir embora é
abandonar o caminho certo! O marketing chega a ser deslavadamente cruel.
“Deixar a outra igreja pode, deixar a nossa, nunca!”
Não se ensina que não
há igreja nem religião perfeita, nem estradas perfeitas. Uma pode ser melhor
do que a outra, mas sempre haverá buracos, empecilhos, barreiras. Aí depende
muito do individuo ser capaz de se perdoar e perdoar a sua igreja que segundo
sua avaliação errou para com ele não lhe dando o conforto que ele esperava.
Perdoará a mais nova igreja quando ela também falhar? E ele, por acaso, não
precisa pedir perdão à sua antiga e agora à sua nova igreja? As igrejas são
pecadoras, mas o sujeito que muda de opção, quando as coisas não saem do seu
jeito, não o é?
Contornar
barreiras e seguir aquele caminho ou, decepcionado, voltar atrás porque não
achou o que queria é o grande drama da conversão! Se foi opção verdadeira o
convertido pensará nos outros e fará todos os sacrifícios possíveis para
prosseguir no caminho de sempre. Se não foi opção pelos outros e sim por si
mesmo, ele mudará e irá lá onde de um jeito ou de outros era protagonista e
fará o que sempre sonhou fazer.
Mas
no novo caminho, ao primeiro grande conflito, se converterá de novo. Ou deixara
de praticar ou mudará outra vez e achará algum culpado pelo seu novo desânimo.
Evidentemente. O problema nunca será ele. Mudou porque os outros não o
acolheram ou respeitaram…
O perigo da meia
conversão existe, como também existe o perigo da meia vocação, da meia promessa
e do meio casamento. Todos eles se assemelham à meia virgindade. A história de
todas as religiões coincide nesse aspecto. Os que ficam e perdoam sua igreja e
os que se cansam dela e buscam outra que lhe fale mais ao coração. Os dogmas aparecem
depois. As dúvidas contra sua própria igreja são alimentadas pelo pregador que
deseja mais alguém em suas fileiras, sempre cuidadoso a não mostrar os podres
da sua igreja. Lá tudo é graça, tudo é força, tudo é luz porque um novo tempo
exige uma nova igreja! O marketing é bonito, mas nem sempre honesto!
A
maioria muda pensando em si e sai pensando em si. Não havendo nem alteridade
nem altruísmo, não haverá ascese, e não havendo ascese, foi apena meia
conversão! Se o ego do fiel for outra vez desafiado ele não hesitará em mudar.
Sua individualidade está acima de qualquer religião ou fé. Releia a segunda
Carta de Paulo a Timóteo, 4,1-5. Já naquele tempo a alteridade andava em
baixa!…
*Padre Zezinho é escritor, compositor e cantor.
Congregação Dehonianos.